quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Comentário ao Salmo 134


Salmo 134

1.Aleluia. Louvai o nome do Senhor, louvai-o, servos do Senhor,
2.vós que estais no templo do Senhor, nos átrios da casa de nosso Deus.
3.Louvai o Senhor, porque ele é bom; cantai à glória de seu nome, porque ele é amável.
4.Pois o Senhor escolheu Jacó para si, ele tomou Israel por sua herança.
5.Em verdade, sei que o Senhor é grande, e nosso Deus é maior que todos os deuses.
6.O Senhor faz tudo o que lhe apraz, no céu e na terra, no mar e nas profundezas das águas.
7.Ele chama as nuvens dos confins da terra, faz chover em meio aos relâmpagos, solta o vento de seus reservatórios.
8.Foi ele que feriu os primogênitos do Egito, tanto dos homens como dos brutos.
9.Realizou em ti, Egito, sinais e prodígios, contra o faraó de todos os seus servos.
10.Abateu numerosas nações, e exterminou reis poderosos:
11.Seon, rei dos amorreus; Og, rei de Basã, assim como todos os reis de Canaã.
12.E deu a terra deles em herança, como patrimônio para Israel, seu povo.
13.Ó Senhor, vosso nome é eterno! Senhor, vossa lembrança passa de geração em geração,
14.pois o Senhor é o guarda de seu povo, e tem piedade de seus servos.
15.Os ídolos dos pagãos não passam de prata e ouro, são obras de mãos humanas.
16.Têm boca e não podem falar; têm olhos e não podem ver;
17.têm ouvidos e não podem ouvir. Não há respiração em sua boca.
18.Assemelhem-se a eles todos os que os fizeram, e todos os que neles confiam.
19.Casa de Israel, bendizei o Senhor; casa de Aarão, bendizei o Senhor;
20.casa de Levi, bendizei o Senhor. Vós todos que o servis, bendizei o Senhor.
21.De Sião seja bendito o Senhor, que habita em Jerusalém.

Louvai ao Senhor que faz maravilhas
1. A Liturgia das Laudes, que estamos a seguir no seu desenvolvimento através das nossas catequeses, propõe-nos a primeira parte do Salmo 134, que acabou de ressoar no cântico dos coristas. O texto revela uma série densa de alusões a outros trechos bíblicos e a atmosfera que o envolve parece ser pascal. Não é sem motivo que a tradição judaica uniu este Salmo com o seguinte, o 135, considerando o conjunto como o "grande Hallel", isto é, o louvor solene e jubiloso que se deve elevar ao Senhor por ocasião da Páscoa.
De facto, o Salmo, coloca em grande relevo o Êxodo, com a menção das "chagas" do Egipto e com a evocação da entrada na terra prometida. Mas sigamos agora as etapas seguintes, que o Salmo 134 revela no desenvolvimento dos primeiros 12 versículos: é uma reflexão que queremos transformar em oração.
2. Na abertura, deparamos com o característico convite ao louvor, um elemento dos hinos dirigidos ao Senhor no Saltério. O apelo a cantar o aleluia é dirigido aos "servos do Senhor" (cf. v. 1), que no original hebraico são apresentados como "ritos" no espaço sagrado do templo (cf. v. 2), ou seja, na atitude ritual da oração (cf. Sl 133, 1-2).
Estão envolvidos no louvor, antes de mais, os ministros do culto, sacerdotes e levitas, que vivem e trabalham nos "átrios da casa do nosso Deus" (cf. Sl 134, 2). Contudo, a estes "servos do Senhor" são associados espiritualmente todos os fiéis. De facto, imediatamente a seguir é mencionada a eleição de todo o Israel para que seja aliado e testemunha do amor do Senhor: "Ele elegeu Jacob para si e Israel para seu domínio preferido" (v. 4). Nesta perspectiva, celebram-se duas qualidades fundamentais de Deus: ele é "bom", ele é "amável" (cf. v. 3). O vínculo que existe entre nós e o Senhor está marcado pelo amor, pela intimidade, pela adesão jubilosa.
3. Depois do convite ao louvor, o Salmista prossegue com uma solene profissão de fé, que começa com a expressão típica "Eu sou", isto é, eu reconheço, eu creio (cf. v. 5). São dois os artigos de fé proclamados por um solista em nome de todo o povo, reunido em assembleia litúrgica. Antes de mais exalta-se a obra de Deus em todo o universo: Ele é por excelência o Senhor da criação: "O Senhor criou tudo quanto quis: nos céus e sobre a terra" (v. 6). Domina também os mares e todos os abismos que são o emblema da confusão, das energias negativas, das limitações e do nada.
É sempre o Senhor quem forma as nuvens, os relâmpagos, a chuva e os ventos, recorrendo aos seus "reservatórios" (cf. v. 7). Com efeito, o homem antigo do Próximo Oriente imaginava que os factores climáticos estivessem conservados em recipientes especiais, semelhantes a cofres celestes, onde Deus os ia buscar para os distribuir na terra.
4. Outro componente da profissão de fé refere-se à história da salvação. O Deus criador é reconhecido agora como o Senhor redentor, recordando os acontecimentos fundamentais da libertação de Israel da escravidão egípcia. O Salmista cita antes de mais o "flagelo" dos primogénitos (cf. Êx 12, 29-30), que resume todos os "sinais e prodígios" realizados pelo Deus libertador durante a epopeia da Êxodo (cf. Sl 134, 8-9). Imediatamente a seguir desfilam na recordação as clamorosas vitórias que permitiram que Israel vencesse as dificuldades e os obstáculos encontrados no seu caminho (cf. vv. 10-11). Por fim, eis que se apresenta no horizonte a terra prometida, que Israel recebe "em herança" do Senhor (cf. v. 12).
Pois bem, todos estes sinais de aliança que serão mais amplamente professados no Salmo seguinte, o 135, confirmam a verdade fundamental, proclamada no primeiro mandamento do Decálogo. Deus é único e é pessoa que realiza e fala, ama e salva: "Reconheço que é grande o Senhor e o nosso Deus é maior que todos os deuses" (v. 5; cf. Êx 20, 2-3; Sl 94, 3).
5. Na esteira desta profissão de fé, também nós elevamos o nosso louvor a Deus. O Papa São Clemente I na sua Carta aos Coríntios faz-nos este convite: "Olhemos para o Pai e Criador de todo o universo. Afeiçoemo-nos aos dons e benefícios da paz, magníficos e sublimes.
Contemplemo-l'O com o pensamento e olhemos com os olhos da alma a sua grande bondade! Consideremos como é imparcial em relação a todas as criaturas. Os céus que se movem segundo a Sua ordem obedecem-lhe na harmonia. O dia e a noite realizam o curso por Ele estabelecido e não são impedimento um para o outro. O sol e a lua e os coros das estrelas segundo a Sua direcção movem-se harmoniosamente sem desvios nas órbitas que lhe foram destinadas. A terra, fecunda pela Sua vontade, produz alimento abundante para os homens, para as feras e para todos os animais que vivem nela, sem relutância e sem nada mudar dos Seus ordenamentos" (19, 2-20, 4: Os Padres Apostólicos, Roma 1984, págs. 62-63). Clemente I conclui observando: "O Criador e Senhor do universo dispôs que todas estas coisas acontecessem em paz e na concórdia, bondoso para com tudo e, de modo particular, para connosco que recorremos à sua piedade por intercessão de Nosso Senhor Jesus Cristo. A Ele seja dada honra e glória por todos os séculos. Amen" (20, 11-12): ibidem, pág. 63).

PAPA JOÃO PAULO II
AUDIÊNCIA GERAL
Quarta-Feira, 9 de Abril de 2003

Diretório Franciscano - Salmo 134 [1-12] (Espanhol)


Salmo 134, 1-12: Louvai o Senhor que faz maravilhas
1. Apresenta-se agora diante de nós a primeira parte do Salmo 134, um hino de índole litúrgica, composto de alusões, reminiscências  e  referências  de  outros textos bíblicos. A liturgia, de facto, elabora com frequência os seus textos bíblicos haurindo do grande património da Bíblia um rico repertório de temas e orações, que sustentam o caminho dos fiéis.
Sigamos a elaboração orante desta primeira parte (cf. Sl 134, 1-12), que se abre com um amplo e apaixonado convite a louvar o Senhor (cf. vv. 1-3). O apelo dirige-se aos "servos do Senhor, que estão no templo do Senhor, nos átrios da casa do nosso Deus" (cf. vv. 1-2).
Portanto, estamos perante uma atmosfera viva do culto que se faz no templo, o lugar privilegiado e comunitário da oração. Ali experimenta-se de maneira eficaz a presença do "nosso Deus", um Deus "bom" e "amável",  o  Deus  da  eleição e da aliança (cf. vv. 3-4).
Depois do convite ao louvor, eis que uma voz solista proclama a profissão de fé, que tem início com uma fórmula "Eu sei" (v. 5). Este Creio constituirá a substância de todo o hino, que se revela uma proclamação da grandeza do Senhor (ibidem), manifestada nas suas obras maravilhosas.
2. A omnipotência divina manifesta-se continuamente no mundo inteiro "no céu e na terra, nos mares e nos abismos". É Ele que faz as nuvens, os relâmpagos, a chuva e os ventos, imaginados como que se estivessem encerrados em "reservatórios" ou contentores (cf. vv. 6-7).
Mas é sobretudo outro aspecto da actividade divina que é celebrado nesta profissão de fé. Trata-se da admirável intervenção na história, onde o Criador mostra o rosto de redentor do seu povo e de soberano do mundo. Passam diante dos olhos de Israel recolhido em oração os grandes acontecimentos do Êxodo.
Antes de tudo, eis a comemoração sintética e essencial das "chagas" do Egipto, os flagelos suscitados pelo Senhor para dominar o opressor (cf. vv. 8-9). Segue-se depois a evocação das vitórias alcançadas por Israel depois da longa caminhada no deserto. São atribuídas à intervenção poderosa de Deus, que "derrotou as grandes nações e matou os reis poderosos" (v. 10). Por fim, eis a meta tão desejada e esperada, a da terra prometida:  "entregou a terra  deles  como  herança, como herança a Israel, seu povo" (v. 12).
O amor divino tornou-se concreto e quase experimentável na história com todas as suas vicissitudes ásperas e gloriosas. A liturgia tem a tarefa de fazer com que os dons divinos estejam sempre presentes, sobretudo na grande celebração pascal que é a raiz de todas as outras solenidades e constitui o emblema supremo da liberdade e da salvação.
3. Acolhamos o espírito do Salmo e o seu louvor a Deus repropondo-o através da voz de São Clemente Romano, do modo como ressoa na longa oração conclusiva da sua Carta aos Coríntios. Ele faz notar que, como no Salmo 134 sucede o rosto de Deus redentor, também a sua protecção, já concedida aos antigos padres, chega agora até nós em Cristo:  "Ó Senhor, faz resplandecer o teu rosto sobre nós, para o bem da paz, para nos proteger com a tua mão poderosa e livrar-nos de todos os pecados com o teu braço altíssimo e salvar-nos de quantos nos odeiam injustamente. Concede a concórdia e a paz a nós e a todos os habitantes da terra, como a concedeste aos nossos pais quando te invocavam santamente na fé e na verdade... A ti, o único capaz de realizar estes bens e outros maiores para nós, agradecemos por meio do grande Sacerdote e protector das nossas almas, Jesus Cristo, pelo qual sejam dadas agora glória e magnificência a Ti, de geração em geração em todos os séculos". (60, 3-4; 61, 3:  Colecção de Textos Patrísticos, V, Roma 1984, pp. 90-91).
Sim, também nós podemos recitar esta oração de um Papa do primeiro século, como nossa oração para o tempo presente. "Ó Senhor, faz resplandecer o teu rosto sobre nós hoje, para o bem da paz. Concede a estes tempos concórdia e paz a nós e a todos os habitantes da terra, por Jesus Cristo que reina de geração em geração e pelos séculos dos séculos. Amém".

PAPA BENTO XVI
AUDIÊNCIA GERAL
Quarta-feira, 28 de Setembro de 2005


Salmo 134, 13-21: Só Deus é grande e eterno
1. O Salmo 134, um cântico com tons pascais, é-nos oferecido pela liturgia das Vésperas em dois trechos distintos. O que agora ouvimos trata a segunda parte (cf. vv. 13, 21), que termina com o aleluia, a exclamação de louvor ao Senhor que tinha iniciado o Salmo.
Depois de ter comemorado na primeira parte do hino o acontecimento do Êxodo, centro da celebração pascal de Israel, agora o Salmista confronta de maneira incisiva duas visões religiosas diferentes. Por um lado, eleva-se a figura do Deus vivo e pessoal que está no centro da fé autêntica (cf. vv. 13-14). A sua é uma presença eficaz e salvífica; o Senhor não é uma realidade imóvel e ausente, mas uma pessoa viva que "guia" os seus fiéis, "movido por piedade" deles, apoiando-os com o seu poder e o seu amor.
2. Por outro lado, emerge a idolatria (cf. vv. 15-18), expressão de uma religiosidade desviada e enganadora. De facto, o ídolo mais não é do que uma "obra das mãos do homem", um produto dos desejos humanos; por conseguinte, é importante superar as limitações criaturais. Ele possui uma forma humana com boca, olhos, ouvidos, garganta, mas é inerte, sem vida, como acontece precisamente com uma estátua inanimada (cf. Sl 113, 4-8).
O destino de quem adora estas realidades mortas é tornar-se semelhante a elas, impotente, inerte. Nesta descrição da idolatria como falsa religião está representada a eterna tentação do homem de procurar a salvação na "obra das nossas mãos", pondo a sua esperança na riqueza, no poder, no sucesso, na matéria. Infelizmente a quem se move nesta direcção, que adora a riqueza, a matéria, acontece o que já tinha descrito de maneira eficaz o profeta Isaías: "Esta gente alimenta-se de cinzas, e o seu coração, extraviado, desencaminha-os. Não consegue salvar-se, dizendo: "Não será um puro engano o que tenho na mão direita?"" (Is 44, 20).
3. O Salmo 134, depois desta meditação sobre a verdadeira ou a falsa religião, sobre a fé genuína no Senhor do universo e da história e a idolatria, conclui-se com uma bênção litúrgica (cf. vv. 19-21), que coloca em cena uma série de figuras presentes no culto praticado no templo de Sião (cf. Sl 113, 9-13).
De toda a comunidade reunida no templo eleva-se ao Deus criador do universo e salvador do seu povo na história uma bênção coral, expressa na diversidade das vozes e na humildade da fé.
A liturgia é o lugar privilegiado para a escuta da Palavra divina, que torna presentes os actos salvíficos do Senhor, mas é também o âmbito no qual se eleva a oração comunitária que celebra o amor divino. Deus e homem encontram-se num abraço de salvação, que encontra o seu cumprimento próprio na celebração litúrgica. Poderíamos dizer que esta é quase uma definição da liturgia: ela realiza um abraço de salvação entre Deus e o homem.
4. Ao comentar os versículos deste Salmo relativos aos ídolos e à semelhança que assumem com quantos neles confiam (cf. Sl 134, 15-18), Santo Agostinho faz notar: "De facto acreditai, irmãos incide-se neles uma certa semelhança com os seus ídolos: certamente não no seu corpo, mas no seu homem interior. Eles têm ouvidos, mas não ouvem o que Deus lhes grita: "Quem tem ouvidos para ouvir, ouça". Têm olhos mas não vêem: isto é, têm os olhos do corpo, mas não os olhos da fé".
Eles não sentem a presença de Deus, Têm olhos mas não vêem. E do mesmo modo, "têm narinas mas não sentem odores. Somos o bom odor de Cristo em todos os lugares (cf. 2 Cor 2, 15). Que vantagem têm eles em possuir as narinas, se não conseguem perceber o perfume suave de Cristo?".
É verdade, reconhece Agostinho, existem ainda pessoas ligadas à idolatria; isto é válido também para o nosso tempo, com o seu materialismo que é uma idolatria. Agostinho acrescenta: mesmo se estas pessoas permanecem, continua esta idolatria; "mas há contudo, todos os dias, pessoas que, convencidas dos milagres de Cristo Senhor, abraçam a fé e graças a Deus também hoje acontece!
Todos os dias se abrem olhos aos cegos e ouvidos aos surdos, começam a respirar narinas que antes estavam fechadas, dissolvem-se as línguas do mudos, consolidam-se os membros dos paralíticos, endireitam-se os pés tortos. De todas estas pedras saem filhos de Abraão (cf. Mt 3, 8). Por conseguinte, diga-se também a todos eles: "Casa de Israel, bendiz ao Senhor"... Bendizei o Senhor vós, todos os povos! Isto significa: "Casa de Israel". Bendizei-o vós, prelados da Igreja!
Isto significa "Casa de Aarão". Bendizei-o, vós, ministros! Isto significa "Casa de Levi". E que dizer das outras nações? "Vós que temeis o Senhor, bendizei-o"" (Exposição sobre o Salmo 134, 24-25: Nova Biblioteca Agostiniana, XXVIII, Roma 1977, pp. 375.377).
Apropriemo-nos deste convite e bendigamos, louvemos e adoremos o Senhor, o Deus vivo e verdadeiro.

PAPA BENTO XVI
AUDIÊNCIA GERAL
Quarta-feira, 5 de Outubro de 2005




















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