quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Comentário ao Salmo 12


Salmo 12

1.Ao mestre de canto. Salmo de Davi.
2.Até quando, Senhor, de todo vos esquecereis de mim? Por quanto tempo ainda desviareis de mim os vossos olhares?
3.Até quando aninharei a angústia na minha alma, e, dia após dia, a tristeza no coração?
4.Até quando se levantará o meu inimigo contra mim? Olhai! Ouvi-me, Senhor, ó meu Deus!
5.Iluminai meus olhos com vossa luz, para eu não adormecer na morte, para que meu inimigo não venha a dizer: Venci-o;
6.e meus adversários não triunfem no momento de minha queda, eu que confiei em vossa misericórdia. Antes possa meu coração regozijar-se em vosso socorro! Então cantarei ao Senhor pelos benefícios que me concedeu.

Comentário de Santo Agostinho:

1 - "Para o fim. Salmo de Davis. Cristo é o fim da lei, para justificar todo aquele que crê" (Rm 10,4). "Até quando, Senhor, me esquecerás completamente?" Quer dizer, até quando adias conceder-me o conhecimento espiritual de Cristo, Sabedoria de Deus e fim genuíno de todos os anseios da alma? "Até quando me esconderás a tua face?" Como Deus não esquece, também não esconde o rosto mas a Escritura fala a nossa maneira. Diz-se que Deus esconde o rosto, quando não transmite o conhecimento de si à alma, que ainda não purificou o olhar da mente.
2 - "Por quanto tempo ainda há de deliberar a minha alma?" De deliberação precisa-se na adversidade. "Por quanto tempo ainda há de deliberar a minha alma?" equivaleria à pergunta: Até quando me acharei em adversidade? Ou então seria resposta, com o seguinte sentido: Senhor, esquecer-me-ás completamente e esconderás de mim a tua face, enquanto deliberar a minha alma. A não ser que alguém delibere consigo mesmo a fim de praticar perfeitamente a misericórdia, Deus não o encaminhará para o fim, nem lhe dará de si conhecimento pleno, no face a face. "A dor no coração todo dia?" Subentende-se: Até quanto terei? "Todo dia", porém, significa continuação, de sorte que "dia" substitui o termo tempo. Quem quiser escapar ao tempo, terá a dor no coração, desejando subir aos bens eternos e não ter mais de suportar o tempo a que os homens estão sujeitos.
3 - "Até quando prevalecerá contra mim o inimigo?" isto é, o diabo, ou o hábito carnal.
4 - "Olha-me, ouve-me, Senhor meu Deus. Olha-me" relaciona-se com a frase: "Até quando me esconderá a tua face?" Ouve-me" com: "Até quando esquecer-me-ás completamente? Ilumina os meus olhos, a fim de que não adormeça em sono mortal". Trata-se dos olhos do coração. Não se fechem eles em culpa deleitável e pecaminosa.
5 - "Não diga alguma vez o inimigo: Suplantei-o". É temível o ataque do diabo. "Exultarão meus opressores, se eu ficar abalado". São o diabo e seus anjos. Eles não puderam exultar por causa de Jó, varão justo, ao ser atormentado, porque ele não se abalou (Jó 1,22), isto é, não se apartou da firmeza da fé.
6 - "Eu, porém, esperei em tua misericórdia". Não atribua o homem a si mesmo o fato de não se abalar e permanecer firme no Senhor. Não aconteça que, gloriando-se de não ter sido abalado, sacuda-o a soberba. "Meu coração se alegrará por causa de tua salvação", Cristo, Sabedoria de Deus. "Cantarei ao Senhor que me encheu de bens", bens espirituais, não pertencentes ao dia dos homens. "E salmodiarei ao nome do Senhor o Altíssimo", isto é, darei graças com alegria e viverei no corpo de maneira bem ordenada. Tal é o canto espiritual da alma. Se aqui existe diferença ponderável, "cantarei" será de coração, e "salmodiarei" ao Senhor com obras, a ele, o único que as vê. "Ao nome do Senhor", porém, que se manifesta aos homens, sendo útil a nós, não a si mesmo.





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