quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Comentário ao Salmo 66


Salmo 66

1.Ao mestre de canto. Com instrumentos de corda. Salmo. Cântico.
2.Tenha Deus piedade de nós e nos abençoe, faça resplandecer sobre nós a luz da sua face,
3.para que se conheçam na terra os seus caminhos e em todas as nações a sua salvação.
4.Que os povos vos louvem, ó Deus, que todos os povos vos glorifiquem.
5.Alegrem-se e exultem as nações, porquanto com eqüidade regeis os povos e dirigis as nações sobre a terra.
6.Que os povos vos louvem, ó Deus, que todos os povos vos glorifiquem.
7.A terra deu o seu fruto, abençoou-nos o Senhor, nosso Deus.
8.Sim, que Deus nos abençoe, e que o reverenciem até os confins da terra.


Queridos irmãos e irmãs, 
1. Ressoou agora a voz do antigo Salmista, que elevou ao Senhor um jubiloso cântico de agradecimento. É um texto breve e fundamental, mas que se expande para um horizonte imenso, até abarcar espiritualmente todos os povos da terra.
Esta abertura universalista reflecte provavelmente o espírito profético da época  posterior  ao  exílio  na  Babilónia, quando se desejava que também os estrangeiros fossem conduzidos por Deus até ao seu monte santo para se sentirem repletos de alegria. Os seus sacrifícios e holocaustos teriam sido agradáveis, porque o templo do Senhor se tornou "casa de oração para todos os povos" (Is 56, 7).
Também no nosso Salmo, o 66, o coro universal das nações é convidado a unir-se ao louvor que Israel eleva no templo de Sião. De facto, por duas vezes volta esta antífona:  "Louvem-Vos, ó Senhor, os povos, todos os povos vos dêem graças" (vv. 4.6).
2. Também os que não pertencem à comunidade escolhida por Deus recebem d'Ele uma vocação:  com efeito, são chamados a conhecer o "caminho" revelado a Israel. O "caminho" é o plano divino de salvação, o reino de luz e de paz, em cuja actuação estão incluídos também os pagãos, convidados a ouvir a voz de Javé (cf. v. 3). O resultado desta escuta obediente é o temor do Senhor em "todos os confins da terra" (v. 8), expressão que não recorda tanto o receio como, ao contrário, o respeito adorante do mistério transcendente e glorioso de Deus.
3. Na abertura e na parte conclusiva do Salmo é expresso um desejo insistente da bênção divina:  "Deus tenha piedade  de  nós  e  nos  abençoe,  e  faça  resplandecer sobre nós a luz da Sua face... O Senhor, nosso Deus, nos abençoa" (vv. 2.7-8).
É fácil ver nestas palavras o eco da famosa bênção sacerdotal ensinada, em nome de Deus, por Moisés a Aarão e aos descendentes da tribo sacerdotal:  "O Senhor te abençoe e te proteja! Que o Senhor dirija o Seu olhar para ti e te conceda a paz!" (Nm 6, 24-26).
Pois bem, segundo o Salmista, esta bênção efundida sobre Israel será como uma semente de graça e de salvação a ser lançada à terra do mundo inteiro e da história, pronta para germinar e se tornar uma árvore frondosa.
O pensamento dirige-se também para a promessa feita pelo Senhor a Abraão no dia da sua eleição:  "Farei de ti um grande povo, abençoar-te-ei, engrandecerei o teu nome e serás uma fonte de bênção... E todas as famílias da terra serão em ti abençoadas" (Gn 12, 2-3).
4. Na tradição bíblica, um dos efeitos experimentais  da  bênção  divina  é  o dom  da  vida,  da  fecundidade  e  da fertilidade.
No  nosso  Salmo  é  mencionada  explicitamente esta realidade concreta, preciosa para a existência:  "O campo deu os seus frutos" (v. 7). Esta constatação estimulou os estudiosos a relacionar o Salmo ao rito de agradecimento para uma colheita abundante, sinal do favor divino e testemunho para os outros povos da proximidade do Senhor a Israel.
A mesma frase chamou a atenção dos Padres da Igreja, que do horizonte agrícola passaram para o nível simbólico. Assim, Orígenes aplicou este versículo à Virgem Maria e à Eucaristia, isto é, a Cristo que provém da flor da Virgem e se torna fruto, para poder ser comido. Nesta perspectiva "a terra é Santa Maria, que vem da nossa terra, da nossa semente, desta lama, desta argila, de Adão". Esta terra deu o seu fruto:  a primeira produziu flor... depois esta flor tornou-se fruto, para que o pudéssemos comer, para que comêssemos a sua carne. Quereis saber quem é este fruto? É o Casto da Virgem, o Senhor da serva, o Deus do homem, o Filho da Mãe, o fruto da terra" (74 Homilias sobre o Livro dos Salmos, Milão 1993, pág. 141).
5. Concluímos com as palavras de Santo Agostinho, no seu comentário ao Salmo. Ele identifica o fruto que germinou na terra com a novidade que se produz nos homens graças à vinda de Cristo, uma novidade de conversão e um fruto de louvor a Deus.
Com efeito, "a terra estava coberta de espinhos", explica ele. Mas "aproximou-se a mão daquele que desenraiza, aproximou-se a voz da sua majestade e da sua misericórdia; e a terra começou a louvar. Agora a terra dá o seu fruto". Certamente não daria fruto, "se antes não tivesse sido regada" pela chuva, "se não tivesse vindo primeiro do alto a misericórdia de Deus". Mas já assistimos a um fruto maduro na Igreja, graças à pregação dos Apóstolos:  "Enviando depois a chuva através das suas nuvens, ou seja, através dos apóstolos que anunciaram a verdade, "a terra deu o seu fruto" mais abundantemente:  e esta messe já encheu o mundo inteiro" (Exposições sobre os Salmos, II, Roma 1970, pág. 551).

 JOÃO PAULO II 
  AUDIÊNCIA GERAL
Quarta-feira, 9 de Outubro de 2002



Diretório Franciscano - Salmo 66 (Espanhol)



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