Salmo 94 - Invitatório do Ofício Divino
1.Vinde, manifestemos nossa alegria ao Senhor, aclamemos o Rochedo de nossa salvação;
2.apresentemo-nos diante dele com louvores, e cantemos-lhe alegres cânticos,
3.porque o Senhor é um Deus imenso, um rei que ultrapassa todos os deuses;
4.nas suas mãos estão as profundezas da terra, e os cumes das montanhas lhe pertencem.
5.Dele é o mar, ele o criou; assim como a terra firme, obra de suas mãos.
6.Vinde, inclinemo-nos em adoração, de joelhos diante do Senhor que nos criou.
7.Ele é nosso Deus; nós somos o povo de que ele é o pastor, as ovelhas que as suas mãos conduzem. Oxalá ouvísseis hoje a sua voz:
8.Não vos torneis endurecidos como em Meribá, como no dia de Massá no deserto,
9.onde vossos pais me provocaram e me tentaram, apesar de terem visto as minhas obras.
10.Durante quarenta anos desgostou-me aquela geração, e eu disse: É um povo de coração desviado, que não conhece os meus desígnios.
11.Por isso, jurei na minha cólera: Não hão de entrar no lugar do meu repouso.
O INVITATÓRIO
“Invitatório vem de invitare, ou seja, convidar. É convite ao louvor de Deus. O Invitatório mostra que todo o ciclo da oração cotidiana constitui um experiência pascal” (Frei Alberto Backhäuser, Liturgia das Horas, Teologia e Espiritualidade, Ed. Vozes. P. 49)
A introdução a todo o Ofício Divino é normalmente formada pelo Invitatório. Este é constituído pelo versículo — Abri, Senhor, os meus lábios: E a minha boca anunciará o vosso louvor — e pelo salmo 94. Este salmo é um convite dirigido todos os dias aos fiéis para que celebrem os louvores de Deus e escutem a sua voz, e ao mesmo tempo uma exortação a esperarem “o repouso do Senhor”.
O Invitatório tem o seu lugar próprio no princípio de todo o ciclo da oração quotidiana; isto é, ou antes das Laudes ou antes do Ofício das Leituras, conforme o dia se iniciar com uma ou outra destas duas ações litúrgicas. No caso de se dever antepor a Laudes, pode-se omitir eventualmente o salmo com a respectiva antífona.
As antífonas do Invitatório variam conforme os dias litúrgicos, como é indicado em seu lugar próprio.
(IGLH 34-36).
Salmo 94: Oxalá hoje escuteis a sua voz
O salmo, do qual tomamos esta palavra de vida, nos recorda que somos o povo de Deus, que Ele quer nos guiar, como faz um pastor com seu rebanho, para introduzir-nos na terra prometida. Ele, que nos tem pensado desde sempre, sabe como devemos caminhar para viver em plenitude, para alcançar nosso verdadeiro ser. Em seu amor nos sugere o que fazer, o que não fazer e nos assinala um caminho a seguir.
Deus nos fala como a amigos, porque quer nos introduzir na comunhão com Ele. Se alguém escuta sua voz, diz o salmo em sua conclusão - entrará no repouso de Deus, na terra prometida, na alegria do Paraíso (cf Hb 3,7-4,1).
Jesus se compara também a um pastor que nos conduz, cada um de nós, a plenitude da vida. Ele fala e seus discípulos, que o conhecem, escutam a sua voz e o seguem. A eles promete a vida eterna (cf Jo 10, 28).
Deus faz cada um de nós ouvir sua palavra. Como nos recorda o Concílio Vaticano II: No fundo da própria consciência, o homem descobre uma lei que não se impôs a si mesmo, mas à qual deve obedecer; essa voz, que sempre o está a chamar ao amor do bem e fuga do mal, soa no momento oportuno, na intimidade do seu coração: faze isto, evita aquilo. O homem tem no coração uma lei escrita pelo próprio Deus; a sua dignidade está em obedecer-lhe, e por ela é que será julgado (Gaudium et Spes, 16).
O que devemos fazer quando Deus nos fala ao coração? Simplesmente temos que nos colocar a escuta de sua Palavra sabendo que, em linguagem bíblica, escutar significa aderir inteiramente, obedecer, adequar-se ao que é dito. É como deixar-se tomar pela mão e ser guiado por Deus. Podemos confiar em Deus como uma criança que se abandona aos braços de sua mãe e deixa levar por ela. O cristão é pessoa guiada pelo Espírito Santo.
Oxalá hoje escuteis a sua voz!
Após estas palavras, o salmo continua: Não endureceis o coração! Também Jesus falou muitas vezes sobre a dureza do coração. Se pode resistir a Deus, uma pessoa pode fechar-se a Ele e negar-se a escutar a sua voz. Um coração duro não deixa se moldar por Deus.
As vezes não se trata nem de má vontade. É que custa reconhecer "essa voz" em meio a muitas outras vozes que ressoam pelo mundo. Muitas vezes o coração está contaminado por demasiados ruídos ensurdecedores; são inclinações desordenadas que nos conduzem ao pecado, a mentalidade deste mundo que se opõe ao projeto de Deus, as modas, os slogans publicitários. Sabemos quão fácil é confundir as próprias opiniões, os próprios desejos com a voz do Espírito Santo, e, em consequencia, cair em caprichos e na subjetividade.
Nunca posso esquecer que a realidade está dentro de mim. Tenho que fazer calar tudo em mim para descobrir a voz de Deus. E tenho que extrair esta voz como se fosse um diamante do barro, limpá-la até reluzir e, então, deixar-se guiar por ela (cf Sl 72, 23-24). Então também poderei guiar outros, porque esta voz sutil de Deus empurra e ilumina, é uma seiva que sobe do fundo da alma, é uma sabedoria, é amor; e amor se deve dar.
Antes de mais nada, é necessário reevangelizar-se constantemente ouvindo a Palavra de Deus, lendo, meditando, vivendo o Evangelho para ir adquirindo, cada vez mais, uma mentalidade evangélica. Assim aprenderemos a reconhecer a voz de Deus dentro de nós, a medida em que aprendamos a conhecê-la dos
lábio de Jesus, Palavra de Deus feita homem. E isto se pode pedir com a oração.
Devemos deixar viver o Ressuscitado dentro de nós, renegando a nós mesmos, fazendo guerra ao egoísmo, ao "homem velho" que está sempre rondando. Isto requer dizer "não" a tudo que está contra a vontade de Deus imediatamente e dizer "sim" a tudo que Deus deseja; "não" em todos os momentos de tentação, cortando de imediato insinuações de pecado; "sim" às tarefas que Ele nos tem confiado, "sim" ao amor para com o próximo, "sim" as provas e dificuldades que encontramos.
Podemos, enfim, identificar a voz de Deus mais facilmente se tivermos Cristo Ressuscitado em nosso meio, quer dizer, se nos amarmos reciprocamente, criando em todas partes um oásis de comunhão e fraternidade. Jesus em meio a nós é como um auto-falante que amplifica a voz de Deus dentro de cada um, fazendo-a ser escutada mais claramente. Também o apóstolo Pedro ensina que o amor cristão, vivido em comunidade, se enriquece sempre mais em conhecimento e discernimento, ajudando-nos a reconhecer sempre o melhor (cf Fp 1,9).
Então nossa vida está entre dois fogos: Deus dentro de nós e Deus entre nós. Neste forno divino nos formamos, escutamos e seguimos a Jesus. Uma vida guiada em tudo que é possível pelo Espírito Santo resulta bela: tem sabor, tem vigor, é autêntica e luminosa.
- Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares.
Comentário ao Salmo 94
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