quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Comentário ao Salmo 79


Salmo 79

1.Ao mestre de canto. Conforme: A lei é como os lírios. Salmo de Asaf. 

2.Escutai, ó pastor de Israel, vós que levais José como um rebanho. 

3.Vós que assentais acima dos querubins, mostrai vosso esplendor em presença de 
Efraim, Benjamim e Manassés. Despertai vosso poder, e vinde salvar-nos. 

4.Restaurai-nos, ó Senhor; mostrai-nos serena a vossa face e seremos salvos. 

5.Ó Deus dos exércitos, até quando vos irritareis contra o vosso povo em oração? 

6.Vós o nutristes com o pão das lágrimas, e o fizestes sorver um copioso pranto. 

7.Vós nos tornastes uma presa disputada dos vizinhos: os inimigos zombam de nós. 

8.Restaurai-nos, ó Deus dos exércitos; mostrai-nos serena a vossa face e seremos salvos. 

9.Uma vinha do Egito vós arrancastes; expulsastes povos para a replantar. 

10.O solo vós lhes preparastes; ela lançou raízes nele e se espalhou na terra. 

11.As montanhas se cobriram com sua sombra, seus ramos ensombraram os cedros de Deus. 

12.Até o mar ela estendeu sua ramagem, e até o rio os seus rebentos. 

13.Por que derrubastes os seus muros, de sorte que os passantes a vindimem, 

14.e a devaste o javali do mato, e sirva de pasto aos animais do campo? 

15.Voltai, ó Deus dos exércitos; olhai do alto céu, vede e vinde visitar a vinha. 

16.Protegei este cepo por vós plantado, este rebento que vossa mão cuidou. 

17.Aqueles que a queimaram e cortaram pereçam em vossa presença ameaçadora. 

18.Estendei a mão sobre o homem que escolhestes, sobre o homem que haveis fortificado. 

19.E não mais de vós nos apartaremos; conservai-nos a vida e então vos louvaremos. 

20.Restaurai-nos, Senhor, ó Deus dos exércitos; mostrai-nos serena a vossa face e seremos salvos." 


Visitai, Senhor, a vossa vinha
Queridos irmãos e irmãs,
1. O salmo que agora foi entoado tem a tonalidade de um lamento e de uma súplica de todo o povo de Israel. A primeira parte emprega um célebre símbolo bíblico, o pastoral. O Senhor é invocado como "pastor de Israel", aquele que "conduziu José como um rebanho" (Sl 79, 2). Do alto da arca da aliança, sentado sobre os querubins, o Senhor guia o seu rebanho, isto é, o seu povo, e protege-o dos perigos.
Assim fizera durante a travessia do deserto. Mas agora, parece estar ausente, quase adormecido ou indiferente. Ao rebanho que devia orientar e nutrir (cf. Sl 22) oferece apenas um pão embebido em lágrimas (cf. Sl 79, 6). Os inimigos escarnecem este povo humilhado e ofendido; contudo, Deus não se mostra admirado, não "desperta" (v. 3), nem revela o seu poder, defendendo as vítimas da violência e da opressão. A invocação da antífona repetida (cf. vv. 4.8) tenta fazer com que Deus abandone a sua atitude indiferente, fazendo com que ele volte a ser pastor e defesa do seu povo.
2. Na segunda parte da oração, densa de tensão e, ao mesmo tempo, de confiança, encontramos outro símbolo querido à Bíblia, o da vinha. É uma imagem que se compreende facilmente, porque faz parte do panorama da terra prometida e é sinal de fecundidade e de alegria.
Como ensina o profeta Isaías numa das suas mais nobres páginas poéticas (cf. Is 5, 1-7), a vinha encarna Israel. Ela ilustra duas dimensões fundamentais:  por um lado, dado que é plantada por Deus (cf. Is 5, 2; Sl 79, 9-10), a vinha representa o dom, a graça, o amor de Deus; por outro, ela precisa do trabalho  do  camponês,  graças  ao  qual produz uvas que podem dar o vinho e, portanto, representa a resposta humana, o empenho pessoal e o fruto de obras justas.
3. Através da imagem da vinha, o Salmo recorda as principais etapas da história hebraica:  as suas raízes, a experiência do êxodo do Egipto, a entrada na terra prometida. A vinha tinha alcançado o seu nível mais amplo de extensão sobre toda a região palestina e para além dela, com o reino de Salomão. De facto, expandia-se dos montes setentrionais do Líbano, com os seus cedros, até ao mar Mediterrâneo e quase até ao grande rio Eufrates (cf. vv. 11-12).
Mas o esplendor deste florescimento foi interrompido. O Salmo recorda-nos que na vinha de Deus passou a tempestade, isto é, Israel sofreu uma provação áspera, uma dura invasão que devastou a terra prometida. O próprio Deus derrubou, como se fosse um invasor, o muro que circundava a vinha, deixando assim que nela irrompessem os saqueadores, representados pelo javali, um animal considerado, pelos costumes antigos, violento e impuro. Ao poder do javali uniram-se todos os animais selvagens, símbolo de uma horda inimiga que tudo devasta (cf. vv. 13-14).
4. Então, dirige-se a Deus o premente apelo para que volte a manifestar-se em defesa das vítimas, rompendo o seu silêncio:  "Voltai, sem tardança ó Deus dos exércitos, observai o céu e considerai; atendei a esta vinha" (v. 15). Deus será ainda o protector da cepa vital desta vinha submetida a uma tempestade tão violenta, afastando tudo o que procurara desenraizá-la e incendiá-la (cf. vv. 16-17).
A este ponto, o Salmo abre-se a uma esperança com tonalidades messiânicas. De facto, o versículo 18 reza assim:  "Que a Tua mão se estenda sobre o homem da Tua direita, sobre o filho do homem que Vós fortalecestes". O pensamento dirige-se talvez, antes de mais, para  o  rei  davídico  que,  com  o apoio do Senhor, orientará a reconquista da liberdade. Contudo, é implícita a confiança no futuro Messias, aquele "filho do homem" que será cantado pelo profeta Daniel (cf. 7, 13-14) e que Jesus assumirá como título predilecto para definir a sua obra e a sua pessoa messiânica. Aliás, os Padres da Igreja serão unânimes ao indicar na vinha recordada pelo Salmo uma prefiguração profética de Cristo "videira verdadeira" (Jo 15, 1) e da Igreja.
5. Sem dúvida, para que o rosto do Senhor volte a brilhar, é necessário que Israel se converta na fidelidade e na oração a Deus Salvador. É o que o Salmista exprime ao afirmar:  "não nos afastaremos mais de ti" (Sl 79, 19).
Por conseguinte, o Salmo 79 é um cântico prevalentemente marcado pelo sofrimento, mas também por uma confiança inabalável. Deus está sempre disposto a "voltar" para o seu povo, mas é necessário que também o seu povo "volte" para Ele na fidelidade. Se nós nos convertemos do pecado, o Senhor "converter-se-á" da sua intenção de castigar:  é esta a convicção do Salmista, que tem o seu eco também nos nossos corações, abrindo-os à esperança.

JOÃO PAULO II 
  AUDIÊNCIA GERAL
Quarta-feira, 10 de Abril de 2002



Diretório Franciscano - Salmo 79 (Espanhol)


Nenhum comentário:

Postar um comentário