quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Comentário ao Salmo 20


Salmo 20

1.Ao mestre de canto. Salmo de Davi.
2.Senhor, alegra-se o rei com o vosso poder, e muito exulta com o vosso auxílio!
3.Realizastes os anseios de seu coração, não rejeitastes a prece de seus lábios.
4.Com preciosas bênçãos fostes-lhe ao encontro, pusestes-lhe na cabeça coroa de puríssimo ouro.
5.Ele vos pediu a vida, vós lha concedestes, uma vida cujos dias serão eternos.
6.Grande é a sua glória, devida à vossa proteção; vós o cobristes de majestade e esplendor.
7.Sim, fizestes dele o objeto de vossas eternas bênçãos, de alegria o cobristes com a vossa presença,
8.pois o rei confiou no Senhor. Graças ao Altíssimo não será abalado.
9.Que tua mão, ó rei, apanhe teus inimigos, que tua mão atinja os que te odeiam.
10.Tu os tornarás como fornalha ardente, quando apareceres diante deles. Que o Senhor em sua cólera os consuma, e que o fogo os devore.
11.Faze desaparecer da terra a posteridade deles e a sua descendência dentre os filhos dos homens.
12.Se intentarem fazer-te mal, tramando algum plano, não o conseguirão,
13.porque os porás em fuga, dirigindo teu arco contra a face deles.
14.Erguei-vos, Senhor, em vossa potência! Cantaremos e celebraremos o vosso poder.

Acção de graças pela vitória do Rei
1. No âmbito do Salmo 20 a Liturgia das Vésperas destacou a parte que agora escutamos, omitindo outra de carácter imprecatório (cf. vv. 9-13). A parte conservada fala no passado e no presente dos favores concedidos por Deus ao rei,  enquanto  a  parte  omitida  fala  no futuro da vitória do rei sobre os seus inimigos.
O texto que constitui o objecto da nossa meditação (cf. vv. 2-8.14) pertence ao género dos Salmos reais. Por conseguinte, no centro encontra-se a obra de Deus a favor do soberano hebraico representado talvez no dia solene da sua entronização. No início (cf. v. 2) e no fim (cf. v. 14) parece que ressoa uma aclamação de toda a assembleia, enquanto o centro do hino tem tonalidades de um cântico de gratidão, que o Salmista dirige a Deus pelos favores concedidos ao rei:  "bênçãos preciosas" (v. 4), "vida longa" (v. 5), "glória" (v. 6) e "alegria" (v. 7).
É fácil intuir que a este cântico como aconteceu com os outros Salmos reais do Saltério foi designada uma nova interpretação quando, em Israel, desapareceu a monarquia. Já com o Judaísmo, ele se tinha tornado um hino em honra do rei-Messias:  desta forma, aplainava-se o caminho da interpretação cristológica, que é precisamente adoptada pela liturgia.
2. Mas, lancemos primeiro um olhar ao texto no seu sentido originário. Respira-se uma atmosfera jubilosa e que ressoa de cânticos, tendo em consideração a solenidade do acontecimento: 
"Senhor, o rei alegra-se com o teu poder e regozija-se com o teu auxílio... Cantaremos e celebraremos a tua força!" (vv. 2.14). Depois, são referidos os dons de Deus ao soberano:  Deus satisfez as suas preces (cf. v. 3), coloca-lhe sobre a cabeça uma coroa de ouro (cf. v. 4). O esplendor do rei está relacionado com a luz divina que o envolve como um manto protector:  "cumulaste-o de esplendor e majestade" (v. 6).
No antigo Médio Oriente considerava-se que o rei estivesse circundado por uma auréola luminosa, que confirmava a sua participação na própria essência da divindade. Naturalmente para a Bíblia o soberano é, sem dúvida, "filho" de Deus (cf. Sl 2, 7), mas apenas em sentido metafórico e adoptivo. Então, ele deve ser o lugar-tenente do Senhor em tutelar a justiça. Precisamente por esta missão Deus o circunda com a luz benéfica e com a sua bênção.
3. A bênção é um tema relevante neste hino breve:  "Foste ao seu encontro com bênçãos preciosas... abençoaste-o para sempre" (Sl 20, 4.7). A bênção é sinal da presença divina que intervém no rei que, desta forma, se torna um reflexo da luz de Deus na humanidade.
Na tradição bíblica, a bênção inclui também o dom da vida que é precisamente efundido sobre o consagrado:  "Pediu-te a vida e Tu lha concedeste, vida longa, pelos séculos além" (v. 5). Também o profeta Natan tinha garantido a David esta bênção, fonte de estabilidade, subsistência e segurança, e David rezou da seguinte forma:  "Abençoa, desde agora, a sua casa, para que ela subsista para sempre diante de ti:  porque Tu, Senhor Deus, falaste e, graças à tua bênção, a casa do teu servo será abençoada eternamente!" (2 Sm 7, 29).
4. Recitando este Salmo, vemos delinear-se por detrás do retrato do rei hebraico o rosto de Cristo, rei messiânico. Ele é "irradiação da glória" (Hb 1, 3). Por conseguinte, Ele é o Filho em sentido pleno e é a presença perfeita de Deus no meio da humanidade. Ele é luz e vida, como proclama São João no prólogo do seu Evangelho:  "Nele é que estava a Vida... e a Vida era a Luz dos homens" (1, 4).
Nesta perspectiva, Santo Ireneu, Bispo de Lião, ao comentar o Salmo, aplicará o tema da vida (cf. Sl 20, 5) à ressurreição de Cristo:  "Por que motivo o Salmista diz:  "Pediu-te a vida", visto que Cristo estava para morrer? Por conseguinte, o Salmista anuncia a sua ressurreição dos mortos e que ele, ressuscitado dos mortos, é imortal. Com efeito, assumiu a vida para ressurgir, e longo espaço de tempo na eternidade para ser incorruptível" (Exposição da pregação apostólica, 72, Milão 1979, pág. 519).

Com base nesta certeza também o cristão cultiva em si a esperança no dom da vida eterna.

PAPA JOÃO PAULO II
AUDIÊNCIA GERAL
Quarta-Feira, 17 de Março de 2004

Diretório Franciscano - Salmo 20 (Espanhol)



Comentário de Santo Agostinho:

1 - "Para o fim. Salmo de Davi". O título já é comum. Canta-se relativamente a Cristo.
2 - "Senhor, o rei se regozijará com o teu poder". Senhor, em teu poder por meio do qual o Verbo se fez carne, alegrar-se-á o homem Cristo Jesus. "E exultará intensamente com a tua salvação". Exultará intensamente porque vivificas todas as coisas.
3 - "Realizaste o desejo de seu coração". Desejou comer a Páscoa (Lc 22,15) e dar a vida quando quisesse e de igual modo reassumi-la (Jo 10,18) e isto lhe concedeste. "E não frustraste os votos emitidos por seus lábios". Disse ele: "Deixo-vos a minha paz" (Jo 14,27). E assim aconteceu.
4 - "Porque o preveniste com bênçãos de doçura". Tendo haurido anteriormente a tua doçura, como uma bênção, o fel de nossos pecados não o prejudicou. "(Diapsalma). Cingiste-lhe a fronte com uma coroa de pedras preciosas". No início da pregação, de certo modo, os discípulos, aproximando-se, cingiram-no com se fossem pedras preciosas. Por eles se realizou o começo do anúncio.
5 - "Pediu-te a vida e lha concedeste". Pediu a ressurreição, dizendo: "Pai glorifica teu Filho" (Jo 17,1) e lha deste. "A prolongação da vida pelos séculos dos séculos". Tivesse a Igreja longos anos neste século, e depois a eternidade nos séculos dos séculos.
6 - "Grande é a sua glória por tua salvação". Imensa é, na verdade, a sua glória por tua salvação, quando o ressuscitaste. "Tu o revestiste de glória e grande honra", mas aumentarás ainda a glória e grande honra, quando o colocares no céu a tua direita.
7 - "Abençoá-lo-ás nos séculos dos séculos". É a bênção que lhe darás eternamente: "Enchê-lo-ás de júbilo com a tua presença". Alegrarás com a tua presença aquele que, enquanto homem, elevaste até junto de ti.
8 - "Porque o rei espera no Senhor". O rei não se ensoberbece, mas com coração humilde espera no Senhor. "E pela misericórdia do Altíssimo será inabalável". Pela misericórdia do Altíssimo não se perturbará sua humildade diante da obediência até a morte de cruz.
9 - "Atinja tua mão todos os teus inimigos". Atinja, ó rei, o teu poder, ao vieres julgar, a todos os teus inimigos, que não o conheceram, em tua humildade. "A tua destra alcance todos os que te odeiam". A glória, com que reinas à direita do Pai, alcance-os para puni-los no dia do juízo, a todos os que te odiaram, porque agora eles não a atingiram.
10 - "Fá-lo-ás uma fornalha ardente". Arderão por dentro, devido à consciência de sua própria impiedade. "No tempo devido de tua face", no tempo próprio a tua manifestação. "Em sua cólera, o Senhor os conturbará e o fogo há de devorá-los". Então perturbados pela vingança do Senhor, depois da acusação da própria consciência, serão lançados ao fogo eterno, para serem devorados.
11 - "Extirparás da terra a sua posteridade". Extirparás da terra sua posteridade, porque terrena. "E a sua raça dentre os filhos dos homens". Não contarás as obras deles ou aqueles que eles seduziram, entre os filhos dos homens, chamados para a herança eterna.
12 - "Intentaram males contra ti". O castigo será a sua paga, porque os males que lhes pareciam iminente, em teu reinado, fizeram reverter contra ti, matando-te. "Fizeram planos que não puderam executar". Deliberaram os judeus: "É de vosso interesse que um só homem morra pelo povo" (Jo 11,50). Não puderam executar seus planos porque não sabiam o que diziam.
13 - "Tu os colocarás atrás de ti", porque os disporás entre os afastados de ti, depois de relegados e desprezados. Com o que te restar, prepararás a sua face. Menosprezando as ambições de reinado terreno, darás ensejo a seu atrevimento, durante a paixão.
14 - "Ergue-te, Senhor, em tua força". Exalta, Senhor, aquele que eles não reconheceram quando se mostrou humilde, por tua força, que eles consideram fraqueza. "Cantaremos e celebraremos teu poder". De coração e com as obras, celebraremos e tornaremos conhecidas as tuas maravilhas.








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