quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Comentário ao Salmo 61


Salmo 61

1.Ao mestre de canto. Segundo Iditum. Salmo de Davi.
2.Só em Deus repousa minha alma, só dele me vem a salvação.
3.Só ele é meu rochedo, minha salvação; minha fortaleza: jamais vacilarei.
4.Até quando, juntos, atacareis o próximo para derribá-lo como a uma parede já inclinada, como a um muro que se fendeu?
5.Sim, de meu excelso lugar pretendem derrubar-me; eles se comprazem na mentira. Enquanto me bendizem com os lábios, amaldiçoam-me no coração.
6.Só em Deus repousa a minha alma, é dele que me vem o que eu espero.
7.Só ele é meu rochedo e minha salvação; minha fortaleza: jamais vacilarei.
8.Só em Deus encontrarei glória e salvação. Ele é meu rochedo protetor, meu refúgio está nele.
9.Ó povo, confia nele de uma vez por todas; expandi, em sua presença, os vossos corações. Nosso refúgio está em Deus.
10.Os homens não passam de um sopro, e de uma mentira os filhos dos homens. Eles sobem na concha da balança, pois todos juntos são mais leves que o vento.
11.Não confieis na violência, nem espereis vãmente no roubo; crescendo vossas riquezas, não prendais nelas os vossos corações.
12.Numa só palavra de Deus compreendi duas coisas: a Deus pertence o poder,
13.ao Senhor pertence a bondade. Pois vós dais a cada um segundo suas obras.



Só Deus é a nossa paz
1. Ressoaram agora as doze palavras do Salmo 61, um cântico de confiança, aberto por uma espécie de antífona, repetida a meio do texto. É como uma serena e forte jaculatória, uma invocação que é também um programa de vida: "Só em Deus descansa a minha alma; dele vem a minha salvação. Só Ele é o meu refúgio e a minha salvação, a minha fortaleza: jamais serei abalado" (vv. 2-3.6-7).
2. Contudo, o Salmo, no seu desenvolvimento, contrapõe duas espécies de confiança. São duas escolhas fundamentais, uma boa e uma pervertida, que obrigam a dois comportamentos morais diferentes. Antes de tudo, está a confiança em Deus, exaltada na invocação inicial onde entra em cena um símbolo de estabilidade e de segurança, como o rochedo, "a rocha de defesa", ou seja, uma fortaleza e um baluarte de protecção.
O Salmista recorda: "Em Deus está a minha salvação e a minha glória, Ele é o meu rochedo e o meu refúgio" (v. 8). Ele afirma isto depois de ter evocado as armadilhas hostis dos seus inimigos que procuram "derrubá-lo do seu posto" (cf. vv. 4-5).
3. Depois, há outra confiança de tipo idolátrico, sobre a qual o orante fixa com insistência a sua atenção crítica. Trata-se de uma confiança que faz procurar a segurança e a estabilidade na violência, na rapina e na riqueza.
Então, o apelo torna-se claro e decisivo: "Não confieis na violência, nem confieis no que roubais; se as vossas riquezas crescerem, não lhe entregueis o coração" (v. 11).
São três os ídolos aqui evocados ou condenados como sendo contrários à dignidade do homem e à convivência social.
4. O primeiro falso deus é a violência, à qual infelizmente a humanidade continua a recorrer também nos nossos dias ensanguentados. Este ídolo está acompanhado pelo enorme cortejo de guerras, opressões, prevaricações, torturas e assassínios abomináveis, infligidos sem o mínimo remorso.
O segundo falso deus é a rapina, que se expressa na extorsão, na injustiça social, na usura, na corrupção política e económica. Demasiadas pessoas cultivam a "ilusão" de satisfazer desta maneira a própria avidez.
Por fim, a riqueza é o terceiro ídolo ao qual "se apega o coração" do homem na esperança enganadora de se poder salvar da morte (cf. Sl 48) e garantir para si uma primazia de prestígio e de poder.
5. Servindo esta tríade diabólica, o homem esquece que os ídolos são soluções inconsistentes, aliás, danosas. Confiando nas coisas e em si mesmo, ele esquece-se de que é "um sopro... uma mentira" (Sl 61, 10; cf. Sl 38, 6-7).
Se nós estivéssemos mais conscientes da nossa caducidade e dos limites próprios das criaturas, não optaríamos pelo caminho da confiança nos ídolos, nem organizaríamos a nossa vida sobre uma escala de pseudo-valores frágeis e inconsistentes. Ao contrário, orienta-la-íamos para outra confiança, a que tem o seu centro no Senhor, fonte de eternidade e de paz. De facto, unicamente a Ele "pertence o poder"; só Ele é fonte de graça; só Ele é o artífice de justiça; "recompensado cada homem segundo as suas obras" (cf. Sl 61, 12-13).
6. O Concílio Vaticano II aplicou aos sacerdotes, o convite do Salmo 61 a "não entregar o coração à riqueza" (v. 11b). O Decreto sobre o ministério e a vida sacerdotal exorta: "não apegando de forma alguma o coração às riquezas, evitem sempre toda a cupidez e abstenham-se cautelosamente de toda a espécie de lucro" (Presbyterorum ordinis, 17).
Contudo este apelo a rejeitar o desafio pervertido e a optar por aquilo que nos conduz a Deus é válido para todos e deve tornar-se a nossa estrela polar no comportamento quotidiano, nas decisões morais, no stilo de vida.
7. Sem dúvida, este é um caminho difícil que comporta, para o justo, também provas e opções corajosas, que contudo se distinguem sempre pela confiança em Deus (cf. Sl 61, 2). Nesta luz os Padres da Igreja viram no orante do Salmo 61 a prefiguração de Cristo, e colocaram a invocação inicial de total confiança e adesão a Deus sobre os seus lábios.
A este propósito no Comentário ao Salmo 61 Santo Ambrósio argumenta assim: "O Senhor nosso Deus, ao assumir sobre si a condição humana a fim de a purificar na sua pessoa, que deveria ter feito imediatamente, a não ser cancelar a influência maléfica do antigo pecado? Por meio da desobediência, isto é, violando as prescrições divinas, tinha-se insinuado a culpa, rastejando. Então, antes de tudo, foi preciso restabelecer a obediência, para placar a sede do pecado... Assumiu sobre si a obediência, para a derramar em nós" (Comentário aos doze Salmos 61, 4: SAEMO, VIII, Milão-Roma 1980, pág. 283).

PAPA JOÃO PAULO II
AUDIÊNCIA GERAL
Quarta-Feira, 10 de Novembro de 2004



Diretório Franciscano - Salmo 61 (Espanhol)


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